Sempre que as tuas cartas chegam, é como se estivesse contigo. Sinto que estou prestes a dizer-te a minha resposta em vez de te responder por escrito. — Séneca, Cartas 67.2

Estar com um amigo é a melhor forma de se apreciar a companhia um do outro e ter conversas significativas. Mas isso nem sempre é possível. Na antiguidade, a carta era um instrumento para construir, manter e fortalecer amizades, estabelecendo uma ponte sobre o espaço de separação. Tal como Séneca escreveu a Lucílio: «nunca recebo uma carta tua sem ficar instantaneamente na tua companhia». As cartas continuaram a desempenhar esta função até serem substituídas, em grande medida, pelo e-mail, o que não foi há muito tempo.

Infelizmente, acho que perdemos algo vital com a invenção do e-mail. Embora estes sejam rápidos e eficientes, tendem a parecer incorpóreos e sem substância. Em comparação, uma carta física bem escrita pode permitir uma experiência significativamente diferente, que comunica mais profundamente a personalidade e os pensamentos internos do indivíduo. E, embora nos possamos esquecer rapidamente dos e-mails, uma carta envolvente pode ser acalentadora e guardada num lugar especial.

O facto de se escrever cartas ter saído de moda é, creio eu, pelo menos uma pequena contribuição para a «epidemia de solidão», sobre a qual lemos tanto nos dias que correm. Ironicamente, embora plataformas como o Facebook nos liguem a centenas de outras pessoas, muitas sentem-se mais solitárias do que nunca. Acho que compreendo o motivo: o nível de comunicação que ocorre nas redes sociais é diminuto, em comparação com as conversas reais de que precisamos para ser felizes e florescer como seres humanos. Enquanto as cartas podem incorporar conversas contínuas, as redes sociais são compostas principalmente por comentários — e essas são duas coisas muito diferentes.

Claro que é possível escrever uma carta real a alguém por e-mail. E, felizmente, por vezes isso acontece. Porém, como a maioria dos e-mails são apenas notas rápidas, o próprio meio incentiva-nos a comunicarmos menos ponderadamente do que antes, na altura em que escrevíamos cartas físicas. Dito de outra forma: com o e-mail comunicamos uns com os outros com muito mais rapidez e frequência, mas também com menos profundidade. Nas suas cartas a Lucílio, Séneca apresenta-nos um modelo daquilo que se assemelha a um tipo de amizade profunda. Porém, na nossa cultura utilitarista de ritmo acelerado, concentrada na obtenção de resultados rápidos e gratificação imediata, muitas vezes parecemos esquecer o que uma amizade profunda e satisfatória exige.

TRÊS NÍVEIS DE AMIZADE

Aristóteles (384–322 a.C.) enfatizou a importância da amizade há mais de dois mil anos, quando escreveu que havia três tipos diferentes de amizade — e como não era possível viver uma vida feliz sem amizades significativas. Embora hoje seja improvável estudar a amizade num curso de filosofia na faculdade, foi tão crucial para Aristóteles que este devotou um quinto da sua obra principal sobre ética, Ética a Nicómaco, à exploração da natureza e significado da amizade.

O nível mais básico de amizade, explica Aristóteles, assenta no benefício mútuo. Podemos ver estas amizades benéficas como ligações semelhantes às que poderão ocorrer num evento de trabalho em rede. Este é o tipo de amizade mais superficial e de curta duração. Uma vez que são frequentemente egocêntricas, quando o benefício oferecido desaparece, estas amizades também se desfazem. Pessoalmente, não designaria estas pessoas como amigas, mas como conhecidas. Nas palavras de Séneca: «a verdadeira amizade fica despojada da sua dignidade quando alguém faz um amigo apenas para…»

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