A filosofia como arte de viver
A FILOSOFIA COMO «A ARTE DE VIVER»: O ESTOICISMO E A SUA ATRAÇÃO DURADOURA
A mente prefere divertir-se a curar-se, tornando a filosofia uma diversão quando, na verdade, é uma cura. — Séneca, Cartas 117.33
Antes de começarmos a explorar o estoicismo, é preciso esclarecer um equívoco comum. O estoicismo não tem nada que ver com «contrair o maxilar» ou reprimir as nossas emoções, o que, como toda a gente sabe, não é saudável. Apesar de Séneca ter sido um filósofo estoico, é essencial reconhecer que, ao longo dos séculos, o significado do termo estoicismo mudou radicalmente: a palavra estoicismo de hoje, escrita com um “e” minúsculo, não tem nenhuma relação com o estoicismo de “E” maiúsculo do mundo antigo.
Embora a palavra moderna signifique «reprimir as nossas emoções», os antigos estoicos nunca defenderam nada deste tipo. Tal como toda a gente, os filósofos estoicos não tinham nenhuns problemas com sentimentos normais e saudáveis, como amor e afeição. Como escreveu o filósofo Epicteto, o estoico não deveria ser «insensível como uma estátua». Em alternativa, os estoicos desenvolveram uma «terapia das paixões» para ajudar a prevenir emoções extremas, violentas e negativas que podem dominar a personalidade, como a ira, o medo e a ansiedade. Em vez da repressão destas emoções negativas, o seu objetivo era transformá-las através da compreensão.
Algumas ideias estoicas importantes remontam ao filósofo grego Sócrates (470–399 a.C.), que disse a famosa frase: «A vida não refletida não vale a pena ser vivida.» Ou seja, «conhece-te a ti mesmo»: o autoconhecimento é essencial para uma vida feliz. Sócrates também sugeria que, da mesma forma que a ginástica é concebida para manter o nosso corpo saudável, também deveria existir algum tipo de arte destinada a cuidar da saúde da nossa alma. Embora Sócrates nunca tenha dado um nome a esta «arte», a conclusão clara era de que o papel da filosofia e do filósofo seria «cuidar da alma».
Estas duas ideias — que o conhecimento é fundamental para a felicidade e para viver uma vida boa e que a filosofia é uma espécie de terapia para a alma — eram os alicerces essenciais sobre os quais o estoicismo assentava. Enquanto escola, o estoicismo teve origem em Atenas por volta de 300 a.C., quando o filósofo Zenão de Cítio (334–262 a.C.) ensinou em Stoa Poikilē ou «Pórtico Pintado» — daí o nome da escola.