DOIS ENSINAMENTOS FUNDAMENTAIS DO ESTOICISMO
DOIS ENSINAMENTOS FUNDAMENTAIS DO ESTOICISMO ROMANO
Como seria de esperar, os filósofos estoicos tinham ideias diferentes sobre muitos temas, mas há vários pontos-chave com os quais todos os filósofos estoicos romanos concordavam. Era o que fazia deles estoicos e não membros de outra escola filosófica. Estas ideias fundamentais do estoicismo também se refletem nas obras de Séneca, sendo que a maioria delas remonta aos primeiros estoicos gregos. Embora exploremos estas ideias mais profundamente nos capítulos que se seguem, vale a pena mencionar aqui estas oito ideias principais do pensamento estoico enquanto uma amostra rápida do que está por vir. (Dito isto, se preferir considerar estes pontos mais tarde, pode avançar para a próxima secção desta introdução.)
- «Viver de acordo com a natureza» para encontrar a felicidade. Como muitos pensadores que vieram antes e depois, os estoicos acreditavam que a racionalidade existe na natureza. Podemos ver evidências disto em padrões e processos naturais, bem como nas leis da natureza, que permitem que as configurações da natureza funcionem de forma perfeita. Uma vez que os seres humanos são parte da natureza, também somos capazes de ser racionais e excelentes. De acordo com Zenão de Cítio, o fundador do estoicismo, ao «vivermos de acordo com a natureza», a nossa vida irá «fluir suavemente». (Claro que é difícil imaginar uma vida feliz, se estivermos constantemente a lutar contra a natureza.) Ainda que viver de acordo com a natureza tivesse vários significados para os estoicos, um dos mais centrais e importantes era que nos devíamos empenhar, enquanto seres humanos, em desenvolver a nossa própria racionalidade e excelência humanas.
- A virtude, ou a excelência do caráter interior de cada um, é o único bem verdadeiro. Embora se apliquem aqui várias dimensões, por agora, vou apenas referir uma: se não tivermos este tipo de bondade interior, não seremos capazes de usar bem outra coisa qualquer para nos beneficiarmos ou beneficiar outros. Por exemplo, os estoicos não viam o dinheiro como um bem em si, uma vez que pode ser bem e mal utilizado. Se possuirmos sabedoria e moderação, que são virtudes, é provável que usemos bem o dinheiro. Porém, se alguém sem sabedoria ou moderação acabar por gastar milhares de euros em drogas ou outros vícios durante um fim de semana, poucos considerarão bom ou saudável — ou uma boa utilização do dinheiro. Tal como Séneca escreveu, «a virtude em si», ou a excelência de caráter, «é o único bem verdadeiro, visto não haver nada de bom sem ela». O que torna uma virtude, como a justiça ou a equidade, verdadeiramente boa é que é sempre ou consistentemente boa. Em contrapartida, outras coisas podem ser bem ou mal utilizadas. Não são intrinsecamente ou consistentemente boas.