Zenão de Cítio

Zenão de Cítio: O Fundador do Estoicismo e a Busca pela Felicidade Racional

Em meio à agitação da Atenas helenística, entre os séculos IV e III a.C., surgiu uma figura que moldaria o panorama filosófico da época: Zenão de Cítio. Nascido em Chipre, esse mercador visionário se tornou o fundador do estoicismo, uma filosofia que busca a felicidade através da razão e da virtude.

Lecionou em Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 a.C. As aulas eram ministradas em uma varanda pintada de pórtico (stoa em grego), o que originou o nome “estoicismo”.

Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo enfatizava a paz de espírito, conquistada através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu como a filosofia predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo

Juventude e Influências:

Zenão nasceu por volta de 336 a.C. em Cítio, Chipre. Acredita-se que tenha se dedicado ao comércio marítimo, viajando pelo Mediterrâneo e acumulando conhecimento sobre diferentes culturas e filosofias. Uma tempestade naufragou seu navio na costa do Pireu, evento que o levou a Atenas, onde sua vida tomou um rumo inesperado.

Na capital grega, Zenão se deparou com as obras de Sócrates, Platão e Aristóteles, que o fascinaram profundamente. Ele frequentou a Academia Platônica e a Escola Peripatética de Aristóteles, buscando saciar sua sede de conhecimento. Foi durante esse período que ele se deparou com os ensinamentos de Crates de Tebas, um filósofo cínico que pregava a simplicidade e a vida em consonância com a natureza.

O Nascimento do Estoicismo:

Inspirado pelos cínicos, mas discordando de sua radicalidade,.

O estoicismo se propõe a guiar o indivíduo à felicidade através da vida virtuosa e racional. Ao contrário dos epicuristas, que buscavam o prazer como objetivo final, os estoicos defendiam a busca pela sabedoria e pela imperturbabilidade (ataraxia) diante das adversidades da vida.

Zenão é descrito como tendo uma aparência desgastada e bronzeada, levando uma vida simples e ascética. Isto coincide com os ensinamentos do cinismo, que foram, pelo menos em parte, continuados na sua filosofia estoica.

Em Atenas, Zenão foi discípulo de Crates de Tebas e estudou os antigos filósofos (dentre estes, Heráclito de Éfeso, que muito o influenciou). Teve também influência da escola megárica, incluindo Estilpo, e dos dialéticos Diodoro Cronos, e Fílon. Também é referido ter estudado filosofia platónica sob direcção de Xenócrates, e Polemão.

Zenão começou os seus ensinamentos nos pórticos cobertos da ágora de Atenas conhecidos como Pórtico Pintado, em 301 a.C. Os seus discípulos foram conhecidos inicialmente como zenonianos, mas, eventualmente, começaram a ser denominados estoicos, um nome previamente aplicado a poetas que se congregavam no Pórtico Pintado.

Entre os admiradores de Zenão, encontrava-se Antígono II Gónatas da Macedónia, que, sempre que vinha a Atenas, visitava Zenão. É referido que Zenão terá recusado um convite para visitar Antígono na Macedónia, apesar de a sua correspondência preservada por Laércio ser uma invenção de um retórico posterior. Zenão teria enviado o seu amigo e discípulo Perseu de Cítio, que viveu na casa de Zenão. Entre outros discípulos de Zenão, encontravam-se Aristo de Cítio, Esfero e Cleantes de Assos, que sucedeu Zenão como escolarca (líder da academia) da escola estoica de Atenas.

Filosofia

Seguindo as ideias da Academia platónica, Zenão propôs uma tripartição na filosofia: lógica (incluindo retórica, gramática e as teorias da percepção e pensamento), física (não apenas do ponto de vista de ciência, mas também a natureza divina do universo) e ética. A lógica fornece um critério de verdade. A física constitui um materialismo monista e panteísta. A ética regula as ações humanas, cujo objetivo é a conquista da felicidade. Esta deve ser perseguida “segundo a natureza”.

A doutrina filosófica de Zenão de Cítio afirma que o ser humano atinge a plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas, contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Para Zenão, a única forma de viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatheia, ou seja, abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando.

Apesar de compartilhar diversos conceitos básicos da filosofia de Epicuro de Samos, Zenão e o estoicismo em geral divergem do epicurismo por entender que a virtude, e não o prazer, constitui o bem supremo. Além disso, consideram que o princípio-chave do universo é a lei racional da natureza, e não e o movimento aleatório dos átomos.

Porque as ideias de Zenão foram trabalhadas posteriormente por Crísipo de Solis e outros estoicos, pode ser difícil determinar, em algumas temáticas, precisamente o que pensava, mas a sua visão geral pode ser resumida abaixo.

Física

O universo, na visão de Zenão, é Deus: uma entidade divina racional, onde todas as partes pertencem ao todo.] Neste sistema panteísta, ele incorpora a física de Heráclito; o universo contém fogo-artesão divino, que controla todas as coisas e que, estando imerso em todo o universo, deve produzir todas as coisas.

Este fogo divino ou éter, é a base de toda a actividade no Universo, operando em matéria anteriormente passiva, ela própria nem aumentando nem diminuindo.[ A substância primária no universo vem do fogo, passa pelo estado de ar, e depois torna-se água: a parte mais concentrada torna-se terra e a menos concentrada torna-se ar novamente, rarefazendo-se de novo em fogo.[ As almas individuais fazem parte do mesmo fogo, como a alma-mundo do universo. Seguindo Heráclito, Zenão adoptou a visão de que o universo passou por ciclos regulares de formação e destruição.

A natureza do universo é tal que realiza o que é certo e previne o que é oposto, e é identificado como destino incondicional ao mesmo tempo permitindo o livre-arbítrio que lhe é atribuído.

Ética

Como os cínicos, Zenão reconhecia um bem único e simples que seria o único motivo a ser atingido “A felicidade é um fluxo de vida bom,” disse Zenão, e isto apenas pode ser atingido através do uso da razão correta coincidente com a razão universal (logos), que tudo governa. Um mau sentimento (pathos) “é um distúrbio da mente repugnante à razão e contra a natureza. Esta essência a partir da qual as acções moralmente boas emergem é a virtude.[32] O verdadeiro bem pode apenas consistir em virtude.

Princípios
Fundamentais do Estoicismo:

A filosofia de Zenão se baseia
em três pilares:

•       Lógica: A razão é a ferramenta fundamental para discernir o
verdadeiro do falso, o bom do mau. Através da lógica, o indivíduo deve analisar
seus pensamentos e ações, buscando sempre a coerência e a justiça.

•       Física: O universo é regido por leis naturais imutáveis e compreender
essas leis é essencial para viver em harmonia com o cosmos.

•       Ética: A virtude é a única fonte de felicidade verdadeira. O
indivíduo deve cultivar virtudes como a justiça, a coragem, a temperança e a
sabedoria para viver uma vida plena e significativa.

Contribuições
e Influência:

Zenão de Cítio deixou um
legado duradouro no mundo da filosofia. Seus ensinamentos influenciaram
pensadores como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, imperador romano que se
tornou um dos maiores expoentes do estoicismo. As ideias de Zenão também
influenciaram áreas como a psicologia, a ética e o direito.

Legado
e Atualidade:

Embora o estoicismo tenha
perdido sua hegemonia com o declínio do Império Romano, seus princípios
continuam relevantes até hoje. Em um mundo marcado por incertezas e desafios, a
filosofia de Zenão de Cítio oferece ferramentas valiosas para lidar com as
adversidades da vida, cultivar a paz interior e alcançar a felicidade através
da razão e da virtude.

A mais famosa destas obras foi
A República, escrita em imitação ou oposição a Platão. Apesar de não ter
sobrevivido, mais é conhecido acerca desta sua obra do que sobre qualquer outra
obra sua. Apresenta a visão de Zenão sobre a sociedade estoica ideal,
construída sob princípios de igualdade.

Conclusão:

Zenão de Cítio foi um
visionário que, ao fundar o estoicismo, ofereceu ao mundo uma filosofia prática
e atemporal. Seus ensinamentos sobre a importância da razão, da virtude e da
vida em harmonia com a natureza continuam a inspirar e guiar pessoas em busca
de uma vida plena e significativa.

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